Acuado por investigações da Polícia Federal (PF), o ex-presidente Jair Bolsonaro atraiu uma multidão à Avenida Paulista, em São Paulo, neste domingo, na maior demonstração de apoio popular desde que deixou a Presidência da República. Vestido com camiseta da seleção brasileira sobre um colete à prova de balas , Bolsonaro pediu pacificação, disse ser um perseguido político e não citou o Supremo Tribunal Federal (STF) em sua fala.
— Levo pancada desde antes das eleições de 2018, passei quatro anos perseguido enquanto presidente da República, essa perseguição aumentou sua força quando deixei a presidência — afirmou.
Na sequência, o ex-presidente citou fatos pelos quais está sendo investigado e refutou a acusação de que teria tentado dar um golpe de Estado.
— É joia, é questão de importunação de baleia, é dinheiro que teria mandado para fora do Brasil. É tanta coisa que eles mesmos acabam trabalhando contra si. A última: Bolsonaro queria dar um golpe. O que é golpe? Golpe é tanque na rua, é arma, é conspiração, é trazer classe política para o seu lado, empresariais. É isso que é golpe. Nada disso foi feito — disse Bolsonaro.
Em 22 minutos de discurso, Bolsonaro contou sua trajetória no Exército e na política, citou realizações de seu governo e fez um apelo ao Congresso Nacional para aprovação de uma anistia aos envolvidos nos ataques às sedes dos Três Poderes em 8 de janeiro.
— Teria muito a falar, tem gente que sabe o que eu falaria. Mas o que eu busco ganhar é a pacificação. É passar uma borracha no passado, buscar uma maneira de vivermos em paz, não continuarmos sobressaltados. É por parte do parlamento brasileiro, uma anistia para aqueles pobres coitados que estão presos em Brasília. Não queremos mais que seus filhos sejam órfãos de pais vivos. Uma conciliação, já anistiamos no passado quem fez barbaridades no Brasil. Por isso pedimos a todos, 513 deputados, 81 senadores, um processo de anistia — conclamou.
O ato é uma tentativa do ex-presidente de manter a militância mobilizada e demonstrar vigor político no momento em que a Polícia Federal (PF) avança na apuração de tentativa de golpe de Estado e abolição do estado democrático de Direito:
— Estou muito orgulhoso e grato por vocês terem aceito esse convite, que era para termos uma fotografia para o mundo do que é a garra, a determinação do povo brasileiro. Com essa fotografia, mostramos que podemos até ver um time de futebol sem torcida ser campão, mas não conseguimos entender como existe um presidente sem povo ao seu lado. Vocês nos trazem a esperança, a energia, a garra, a certeza de que temos como vencer.
Ao final, Bolsonaro disse que a mudança deve começar já nas eleições municipais de 2024 e, sem citar o Tribunal Superior Eleitoral, reclamou da condenação que o tornou inelegível por oito anos.
— Em 2024, temos eleições municipais. Vamos caprichar no voto. E nos prepararemos para 2026. O futuro a Deus pertence — afirmou, para depois completar: — Não podemos concordar que um poder tire do palco político quem quer que seja, a não ser que seja por um motivo extremamente justo. Não podemos pensar em ganhar as eleições afastando os opositores — afirmou.
Presença do público
Os apoiadores presentes no ato deste domingo vestem camisas verde e amarelo e seguram bandeiras do Brasil. Em vídeo divulgado no dia 13, Bolsonaro ressaltou que o ato seria "pacífico" e pediu aos apoiadores que evitassem levar faixas "contra quem quer que seja". De acordo com o site G1, o ato ocupava seis quarteirões e meio da avenida por volta das 16h. A Polícia Militar mobilizou 2 mil homens para fazer a segurança na Paulista.
O Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (Masp), um dos cartões postais da capital paulista que fica na Avenida Paulista, está fechado neste domingo por conta da manifestação.
Chegada de Bolsonaro
Bolsonaro chegou ao local pouco depois das 14h. O ex-presidente estava acompanhado. do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, e do deputado federal Tenente-coronel Zucco (PL-RS). No palanque, Bolsonaro ficou ao lado da ex-primeira-dama Michele Bolsonaro, dos filhos, de ex-ministros parlamentares e aliados políticos.
Michele Bolsonaro abriu o ato com uma manifestação religiosa. Proibido de manter contato com Bolsonaro e outros investigados de tentativa de golpe de Estado, o presidente nacional do PL, Valdemar Costa Neto, fez um rápido discurso no início do ato, agradeceu a presença dos militantes e deixou o local.
Na sequência, discursaram os deputados federais Gustavo Gayer (PL-GO) e Nikolas Ferreira (PL-MG). Há um cuidado especial com o uso da palavra, para evitar que haja ataques ao STF ou incitações à intervenção militar e golpe de Estado. Embora mais de cem deputados tenham confirmado presença, pouco mais de 10 pessoas irão discursar.
Discursos de Tarcisio e Malafaia
Falando em nome dos governadores presentes, Tarcísio evitou polêmicas e resgatou realizações do governo Bolsonaro, como a criação do PIX.
— Tanta coisa boa aconteceu. Gente, quem lembra do PIX? Isso mudou a vida das pessoas. Hoje nossa economia anda por causa do PIX - afirmou.
Subiram ao palanque os governadores de Goiás, Ronaldo Caiado, de Minas Gerais, Romeu Zema, e de Santa Catarina, Jorginho Melo.
Na sequência de Tarcísio, falou o pastor Silas Malafaia, que financiou o ato gastando cerca de R$ 100 mil na contratação dos carros de som e da estrutura. No discurso, Malafaia disse que não atacaria as instituições, mas lançou uma série de suspeitas sobre a atuação do ministro Alexandre de Moraes no Supremo Tribunal Federal (STF) e no Tribunal Superior Eleitoral. Para Malafaia, a investigação da tentativa de golpe de Estado foi criada para prejudicar Bolsonaro. Ele colocou em dúvida a participação de bolsonaristas nas depredações do 8 de Janeiro.
— Começou, então, a narrativa de golpe. Cadê os vídeos gravados pelas câmeras do governo, que estão em posse de Alexandre de Moraes? O povo tem que saber quem está por trás dessa safadeza e daquela baderna — afirmou.
Entenda o contexto da manifestação
Bolsonaro e seus aliados próximos são investigados por supostamente articularem um golpe após a vitória do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na eleição de 2022. No último dia 8, após autorização do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, o ex-presidente teve o passaporte apreendido.
Em decisão de 135 páginas, Moraes afirma que os alvos da operação estariam planejando a execução de um golpe de Estado em uma organização formada por, pelo menos, seis diferentes tipos de atuação. Segundo a Polícia Federal, as tarefas das frentes tinham três objetivos: desacreditar o processo eleitoral, planejar e executar o golpe de Estado e abolir o Estado democrático de direito.
No dia 22, Bolsonaro compareceu na sede da Polícia Federal, em Brasília, para prestar depoimento sobre o caso, mas permaneceu em silêncio. O advogado Paulo da Cunha Bueno explicou que não teve acesso a todas as provas que fundamentaram a operação Tempus Veritatis.
Além de Bolsonaro, outros alvos da Tempus Veritatis também foram intimados a prestar depoimento à PF, como o coronel e ex-ajudante de ordens Marcelo Costa Câmara, o ex-assessor Tércio Arnaud Tomaz e o ex-ministro da Justiça Anderson Torres. Por estratégia da PF, todos investigados tinham de depor ao mesmo tempo. Assim, a polícia tenta evitar que haja combinação de versões.
O advogado Marcelo Bessa, que representa Valdemar, informou que ele respondeu todas as perguntas dos investigadores. O advogado Eumar Novacki, que representa o ex-ministro Anderson Torres, confirmou que ele não ficou em silêncio.
POR GZH
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