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Mulheres na Polícia: Conversamos com a Delegada Fabiane Bittencourt

Por Igor Blatt



Ainda que enfrentando obstáculos maiores, as mulheres no mundo todo lutam diariamente para manter ou criar seu espaço junto às empresas e órgãos públicos. Em contraponto aos séculos passados, o papel da mulher mudou bastante e ganhou proporções merecidamente vastas. Enquanto seres ativos na sociedade, elas estão conquistando espaços e chegando a lugares antes inimagináveis para o gênero. Isso não significa que o preconceito acabou. A luta ainda é necessária e resistente. Para falar um pouco mais sobre esses espaços que as mulheres estão alcançando, nossa equipe conversou com a Delegada Fabiane Bittencourt, que está à frente da 24ª Região Policial do Estado. Fabiane está há 13 anos na força policial. Ingressou aos 27 anos. De lá para cá, morou em diversos estados junto à Força Nacional de Segurança Pública, onde atuou basicamente em investigações de crimes de homicídio. Ao retornar ao estado, recebeu o convite para assumir o comando das delegacias de 16 cidades. Ela nos conta sobre como é ser mulher em um ambiente predominantemente masculino: PE: Como foi o seu início junto à força policial? DFB: Quando eu ingressei, há 13 anos, eu era a policial mais jovem da minha região, entre todos os delegados e agentes. E também era mulher. Encontrei certa dificuldade. Não posso dizer que tenha sofrido um preconceito escancarado, até pelo meu perfil. Tenho um tom impositivo e não possuo a fala doce. Na cidade onde eu assumi, nunca havia tido uma delegada mulher, ou uma agente mulher. Quando você é mulher e assume uma posição como essa, precisamos estar sempre provando que somos boas. Enquanto que um colega homem, somente pelo fato de ele ter sido aprovado em um concurso, já demonstra ser capaz, isso não ocorre com as mulheres. Senti isso também junto à sociedade. Embora as pessoas recebam bem, sempre há uma expectativa, pelo fato de ser uma mulher. Hoje as coisas estão mais tranquilas. As mulheres estão à frente dos departamentos da Polícia Civil. Nós temos uma Chefe de Polícia mulher. As mulheres têm feito diferença na Instituição e, consequentemente, na sociedade. PE: Inclusive nos concursos da polícia, são elas que são aprovadas com as maiores notas. DFB: As mulheres são muito focadas, persistentes e organizadas. Obviamente, algumas trazem outra bagagem, da casa, da família. Posso dizer por mim. Tive uma filha aos 17 anos, então toda a minha trajetória na polícia, desde o concurso até hoje, foi com uma filha pequena. Claramente a dificuldade é maior para as mulheres, por essas outras responsabilidades sociais que ela acaba assumindo. Mesmo assim, elas conseguem dar conta de todo este contexto. PE: A senhora acredita que a polícia funciona melhor quando unidas as habilidades inerentes a ambos os gêneros? DFB: Não tenho dúvida. A presença do homem e da mulher e das habilidades de ambos, físicas e psicológicas. Hoje, aqui na nossa região, trabalhamos com um quantitativo bem distribuído. Particularmente, gosto muito de trabalhar com mulheres. Elas são muito organizadas na condução do trabalho, têm uma percepção mais aguçada e habilidade em lidar com o público. Simplesmente não vejo a polícia sem mulher. PE: Podemos afirmar então que, para ser um bom policial, o gênero não influencia em nada? DFB: Podemos, com certeza. Como eu disse antes, precisamos tanto de mulheres quanto de homens na força policial. É nítido que as mulheres estão ocupando esses espaços. E são merecedoras disso. Não só merecedoras, como necessárias. O que eu diria que é necessário para a prestação de concurso hoje é a vocação. Não temos horários, precisamos estar sempre conectados. Não temos um dia de descanso e muitas vezes passamos as madrugadas trabalhando. PE: As famílias sempre ficam muito preocupadas. O seu caso é exceção à regra? DFB: Embora eu tenha vindo de uma família de policiais, a preocupação existe sempre. Claro que tive momentos em minha carreira em que fiquei em frente ao perigo e sofri ameaças ou lidei com questões mais sensíveis. A preocupação da família é grande. É natural. Eu sempre coloco para a minha família que minha profissão está à frente de praticamente tudo. Trabalhar na Polícia Civil não é apenas uma profissão, e sim uma missão. Estou cuidando da sociedade como um todo, não apenas das minhas filhas. É uma responsabilidade muito grande. A família precisa ter esse entendimento. PE: Qual conselho a senhora daria para as mulheres que querem seguir essa carreira? DFB: Estudar muito. Os concursos estão difíceis e a concorrência é muito grande. Só a vontade não basta. Se não se dedicar muito, não dá certo. Confira a entrevista na íntegra aqui.



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