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No RS, 62% das categorias tiveram reajuste salarial acima da inflação em 2023

Após um ano marcado por grande volume de reajustes abaixo da inflação, 2023 começa com sinais de recomposição salarial no Rio Grande do Sul. No Estado, 62,06% das categorias pesquisadas no boletim Salariômetro, da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), tiveram reajuste acima da inflação no primeiro trimestre. O Salariômetro usa dados coletados na página Mediador, do governo federal. Por inflação, o levantamento tem como base o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), que é usado como base nas negociações.


De janeiro a março, o Rio Grande do Sul registrou 280 negociações em 29 categorias, conforme dados mais recentes do levantamento da Fipe. Das 29 classes pesquisadas, 18 registraram reajuste acima do INPC e 11 em nível no mesmo patamar. Ou seja, todas tiveram avanço no mesmo volume ou acima da inflação. A mediana de reajuste real desse total de classes de trabalho ficou em 0,53%. Mesmo com aumento real na maioria dos casos, apenas nove grupos tiveram ganho acima de um ponto percentual.


O professor sênior da Faculdade de Economia da Universidade de São Paulo (USP) e coordenador do Salariômetro da Fipe, Hélio Zylberstajn, afirma que a desaceleração da inflação nos últimos meses cria um ambiente melhor nas mesas de negociação. Como o INPC é uma espécie de ímã dos reajustes, quando o indicador está em patamares mais baixos, aumenta a chance de atualizações melhores, segundo o especialista:


— É difícil para a empresa repor a inflação quando ela está alta. Agora, como diminuiu o ritmo nos últimos meses, a possibilidade de um aumento, inclusive real, é muito maior. Uma coisa é ter uma inflação de 5%, onde é possível dar 5,5%. Agora, se estiver em 10%, fica complicado chegar nisso.


Para efeito de comparação, no primeiro trimestre de 2022, Das 34 classes pesquisadas, 26 (76,5%) tiveram avanço no mesmo volume ou abaixo da inflação. A diferença da média de preços neste ano e no anterior corrobora a análise do coordenador do Salariômetro. O dado mais recente do INPC mostra que o acumulado de 12 meses fechou em 3,83% em abril deste ano. No mesmo período do ano passado, estava em 12,47%.


Sobre o número baixo de acertos com aumento real mais expressivo, Zylberstajn destaca a falta de tração na economia do país como um dos principais fatores que explicam esse comportamento.


O supervisor técnico do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) no Rio Grande do Sul, Ricardo Franzoi, também reforça o peso da perda de ritmo do INPC nesse cenário. Franzoi afirma que, mesmo com a maioria dos reajustes acima ou no mesmo patamar da inflação, a correção pega apenas a média geral do indicador no período. Ou seja, a alta em alguns grupos, como alimentação, ocorre em nível mais elevado e segue pressionando o orçamento dos trabalhadores. Nesse sentido, empresas e sindicatos tentam achar complementos:


— As alternativas que têm surgido são vale-alimentação, alguma coisa que compense essa área de alimentação como uma forma de não dar aumento.


Maurício Weiss, professor do Programa de Mestrado Profissional de Economia (PPECO) da UFRGS, afirma que, além da desaceleração da inflação, a retomada do mercado do trabalho observada recentemente também ajudam a explicar o ambiente mais favorável:


— Com o aumento da demanda por trabalho, o poder de barganha cresce. Dos trabalhadores, individualmente falando, mas especialmente por meio dos sindicatos das categorias. Essa recuperação em parte econômica, em parte no mercado de trabalho, tem ajudado.


No âmbito das categorias, as áreas ligadas a condomínios, contabilidade e bares e restaurantes registram os maiores reajustes no Estado no primeiro trimestre (veja mais abaixo).


O dado da Fipe é atualizado em cada extração, portanto, o acumulado dos primeiros três meses 2022, mostra total de negociações mais elevado (912) ante o observado neste ano. O coordenador da pesquisa afirma que isso se deve ao atraso no envio dos acordos e das convenções ao Ministério do Trabalho, mas não afeta as proporções observadas nas categorias.


Futuro passa por reduzir incertezas na economia

Olhando os dados nacionais, o movimento é parecido com o observado no Estado, com a maior parte das negociações com reajuste acima da inflação (veja mais abaixo). Especialistas afirmam que esse ambiente deve seguir nos próximos meses diante de INPC em patamares mais baixos no acumulado de 12 meses, principalmente até o início do segundo semestre.


O coordenador do Salariômetro segue nessa linha, projetando acordos com variações positivas. Porém, salienta a necessidade de ações do governo federal para diminuir incertezas na economia, aquecer a atividade e criar espaço para reajustes maiores:

— A economia do país tem de voltar a crescer. Tem que voltar a confiança. O governo precisa dar os sinais de que tem um plano pro país, que vai cuidar das contas, dos investimentos, da regulação, preservar as agências.


O professor Maurício Weiss avalia que acréscimos no repasse de programas sociais, como o Bolsa Família, aumento do salário mínimo e recomposição dos salários de servidores federais ajudam a economia e o mercado de trabalho. No entanto, juro ainda em patamar elevado até o fim do ano segura reajustes mais robustos:


— Não vejo uma melhora no rendimento de forma significativa e forte, mas sim de forma contínua, paulatina, gradual do mercado de trabalho ao longo do ano, conseguindo manter reposições acima da inflação, mas não muito acima.


O supervisor técnico do Dieese no Estado lembra que tem de colocar no radar o aumento dos combustíveis nos próximos meses, que deve impactar a inflação. No entanto, projeta que esse efeito ainda não deve ser sentido nas negociações em 2023, que devem manter a tendência de valores acima do INPC.


POR GZH


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