A história da estudante de biomedicina, então com 44 anos, Patrícia Linares, que foi alvo de etarismo - o preconceito contra pessoas mais velhas - em um vídeo gravado por três jovens colegas de turma e publicado no Instagram, ganhou destaque nos últimos dias. Nesta terça-feira (14), Patrícia falou à Rádio Gaúcha e citou, na data em que completa 45 anos, estar tentando "transformar uma coisa que foi horrível em coisa boa". A atitude ignora uma tendência do Ensino Superior no país: o avanço na presença da faixa etária superior aos 40 anos no Ensino Superior brasileiro.
Segundo dados de 2021 do Censo da Educação Superior do Ministério da Educação (MEC), o número de calouros com 40 anos ou mais em universidades brasileiras quase triplicou nos últimos 10 anos, entre 2012 e 2021. No ano passado, quase 600 mil calouros com 40 anos ou mais entraram na faculdade no Brasil, contra 221 mil há 10 anos. A alta, de 171,1%, foi maior do que a variação do total de ingressantes, que apresentou um aumento de 43,1% no período. A parcela ocupada por essa faixa etária no Ensino Superior praticamente dobrou: subiu de 8% para 15,2% no período.
Na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), o número de estudantes com mais de 40 anos vinculados à graduação saltou de cerca de 2 mil no início de 2016 para 2.830 no último semestre. De lá para cá, a proporção de graduandos da faixa etária cresceu de 6,3% para 8,1%. Ou seja, hoje, na média, entre turmas de 20 alunos, ao menos um está acima dos 40 anos. Os números foram coletados por GZH no Painel de Dados da UFRGS.
Já na Universidade de Caxias do Sul (UCS), o número de alunos com mais de 40 anos matriculados na graduação é de cerca de 7% do total dos estudantes. Ao todo, 222 alunos da faixa etária ingressaram na instituição neste ano, informou o filósofo Gelson Rech, reitor da instituição em nota.
"Praticamente 85% dos nossos alunos são pessoas que trabalham para estudar, e não que estudam para trabalhar. Estão estudando para melhorar sua situação profissional. Na faixa com mais de 40 anos, a maioria é trabalhadora e estuda à noite por conta disso", detalha Rech.
Em nota à GZH, a Feevale disse que cerca de 6,4% dos estudantes da instituição têm mais de 40 anos. No início deste ano, 53 estudantes da faixa etária ingressaram na graduação, 38 em cursos presenciais e 15 nos digitais. Ao todo, são 509 alunos com a idade na Feevale, 109 deles matriculados no ensino a distância.
Já a Pontifícia Universidade Católica do RS (PUCRS) afirmou que tem 599 alunos com mais de 40 anos matriculados na graduação da universidade. Neste ano, 159 alunos da faixa etária ingressaram na instituição de ensino católica.
Contatada pela reportagem, a Unisinos não retornou até o fechamento desta reportagem.
Das causas para o avanço
Entre as causas para o avanço revelado pelo Censo da Educação Superior do Ministério da Educação, estão a expansão dos cursos de ensino a distância (EAD) e a crise econômica causada pela pandemia da covid-19, que obrigou muita gente a recalcular a rota no mercado de trabalho.
Gelson Rech ressalta que há uma transição na pirâmide etária brasileira, com uma queda na natalidade e um crescimento na proporção de pessoas com mais idade, o que reforça o avanço da faixa nas faculdades. De acordo com ele, a UCS tem há 28 anos um programa voltado a alunos “sênior”, com mais de 50 anos, e que hoje soma mais de mil alunos, entre os 22 mil estudantes da instituição.
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