Thiago Lacerda interpreta Bento Gonçalves em produção sobre a Revolta dos Farrapos e os Lanceiros Negros: "É um filme necessário"
- Jornalismo Portal NMT

- 7 de out.
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A saga dos Lanceiros Negros na Revolta dos Farrapos (1835-1845) caminha para se tornar história de cinema, literalmente. O longa-metragem Porongos está em produção, com boa parte de suas cenas já gravadas no Rio Grande do Sul, em localidades como Bagé, Aceguá e Minas do Camaquã – distrito de Caçapava do Sul que preserva a paisagem do Pampa. A maioria das captações ocorreu entre agosto e setembro.
O filme, que tem direção e roteiro de Diego Müller e produção de seu irmão, Pablo Müller, revisita o episódio conhecido como Massacre de Porongos, resultado de uma traição que vitimou mais de cem soldados negros, aos quais havia sido prometida a alforria após a guerra.
A produção conta com o porto-alegrense Emilio Farias como protagonista. Ele interpreta Adão Caetano, um lanceiro negro cuja luta por dignidade confronta as contradições dos líderes republicanos do Estado. Samira Carvalho também é um dos destaques, no papel de Mahín, liderança no quilombo e guerreira nos campos de batalha. Embora inspirado em personagens e fatos, o filme adota uma abordagem ficcional para detalhar as ambiguidades da Revolta dos Farrapos.
— É um privilégio muito grande poder estar contando essa história, poder estar levando essas vozes e uma responsabilidade muito grande. Poder encostar nesse fato, nessa traição, é o jeito de vencer a traição, poder publicizar essa traição. Tem um ditado que fala: "Exu matou um pássaro ontem com uma pedra que jogou hoje". Nós estamos jogando essa pedra para, de alguma forma, fazer justiça com o que aconteceu e levar a história dos Lanceiros Negros para as pessoas — destaca Emilio Farias.
Outro personagem que entra em cena é Bento Gonçalves, um dos principais líderes da guerra contra o Império. Em Porongos, ele é interpretado por Thiago Lacerda, ator carioca com forte conexão com o Rio Grande do Sul – viveu Giuseppe Garibaldi na minissérie A Casa das Sete Mulheres (2003) e o Capitão Rodrigo Cambará no filme O Tempo e o Vento (2013).
Tudo que passei nesses anos todos, de uma certa maneira, me prepararam um pouco para fazer o Bento (Gonçalves).
THIAGO LACERDA
Ator
Em entrevista para a reportagem de Zero Hora, o artista explicou que a preparação para viver Bento começou com pesquisas sobre a cultura gaúcha e seus personagens icônicos. Ele já havia feito um mergulho mais profundo na criação do líder farroupilha há alguns anos, quando ocorreu a concepção do roteiro de Porongos e, logo depois, recebeu o convite de Diego Müller para interpretar o revolucionário.
— A minha carreira tem se encontrado com personagens históricos do Rio Grande do Sul. E o Bento é um deles. Conheço a sua história de outros processos, outros estudos. Tudo que passei nesses anos todos, de uma certa maneira, me prepararam um pouco para fazer o Bento. É essencial romper com o que a gente tem de romântico, de heroico desses personagens, trazendo uma perspectiva mais humana diante da circunstância histórica. Isso é algo que está me interessando no resultado — destaca Lacerda.
Busca por recursos
A ideia para Porongos surgiu durante a pandemia de covid-19, quando Diego Müller ficou isolado no interior de Caçapava do Sul. Nesse período, fez uma incursão pela literatura e pelo cinema do Estado, mas avaliou que, em sua visão, a construção do povo gaúcho de hoje era “incompleta”, pois não dava o devido destaque ao negro na história do Rio Grande do Sul. Decidiu, então, desenvolver uma narrativa revisitando a Revolta dos Farrapos, para contribuir na correção desse apagamento.
— A gente revista como o negro chega no Rio Grande do Sul, como foi escravizado, explorado. Isso vai para lugares polêmicos e, entre muitas aspas, interessantes desta narrativa. Me debrucei sobre esta ideia de contar a história do gaúcho, que acredito ser miscigenado, de forma correta, a partir do branco, do indígena, do pardo e do negro. Vou contar a história de um protagonista preto dentro da Guerra dos Farrapos e, então, no Massacre de Porongos — enfatiza Diego.
Porongos foi contemplado no edital da Lei Paulo Gustavo, mas os custos da produção superaram o valor previsto e, para poder contar a história com a grandiosidade que o diretor considera necessária, as filmagens foram interrompidas. Agora, o projeto segue em captação de recursos por meio da Lei do Audiovisual e também busca investimentos privados.
— A gente não podia fazer um filme menor que Netto Perde Sua Alma, por exemplo. Não podíamos fazer um filme menor que outros filmes porque a gente não ia estar colocando esse assunto, esse tema, dentro do lugar que ele precisa estar. Então, não abrimos mão de estar em lugares, como Minas do Camaquã, que trouxessem uma grandiosidade para o filme — esclarece o diretor, que acredita já ter 80% da obra filmada.
— Realmente, torço para que o filme aconteça. Falta muito pouco. Tenho certeza de que os guris vão conseguir reunir recursos para concluir, porque, cara, o filme é demais, a história é incrível. O elenco, pô, está deslumbrante. Porongos merece acontecer e eu tenho certeza de que vai rolar. É um filme necessário, urgente e lindo. Vai nos dar muito orgulho — enfatiza Thiago Lacerda.
Se tudo der certo, Diego Müller espera que Porongos esteja nas salas de cinema no final de 2026.
Fonte: GZH






















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