Ao apagar das luzes de 2023, a Universidade Luterana do Brasil (Ulbra) anunciou a alunos e professores o fechamento de todos os seus programas de pós-graduação (PPGs) stricto sensu. Os estudantes dos cinco cursos de mestrado e quatro de doutorado existentes na instituição poderão concluir suas atividades, mas não haverá novos ingressantes. Em torno de 65 docentes foram demitidos, sendo 50 de campi do Rio Grande do Sul.
A Ulbra possui PPGs em Biologia Celular e Molecular Aplicada à Saúde; Educação; Ensino de Ciências e Matemática; Odontologia; e Promoção da Saúde, Desenvolvimento Humano e Sociedade. Em e-mail enviado na quinta-feira (21) à comunidade acadêmica, a Aelbra – mantenedora da universidade – informou sobre a descontinuidade dos programas e creditou a decisão a um “projeto de reestruturação organizacional implementado pela nova gestão”, que “vem adotando um amplo conjunto de medidas que visam à sustentabilidade e ao equilíbrio econômico da instituição”.
A decisão foi anunciada um dia após a aprovação de um novo plano de recuperação judicial entre os credores do estabelecimento. A principal mudança foi a retirada da venda do curso de Medicina do rol de bens a serem liquidados.
A doutoranda em Odontologia Elisa Coelho diz que, apesar de cientes das dificuldades financeiras da instituição, os estudantes foram pegos de surpresa – neste semestre, o processo seletivo para novos alunos ocorreu normalmente, e as matrículas foram realizadas entre 13 e 18 de dezembro.
— Quem estava saindo do mestrado e indo para o doutorado, por exemplo, não vai poder continuar, e teve gente que só fez essa seleção, contando em continuar ali, com suas pesquisas e orientadores. Essas pessoas, agora, não têm para onde ir. Tivemos uma reunião online no sábado e foi bem triste, porque não é só um programa, devolvemos muita coisa para a comunidade. Então, todo mundo vai perder — lamenta Elisa.
Em uma escala até 7, o PPG em Odontologia da Ulbra recebeu conceito 5 nas duas últimas avaliações quadrienais da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). A pós-graduação em Ensino de Ciências e Matemática tem a mesma nota. Os cursos de Biologia Celular e Molecular Aplicada à Saúde e de Educação contam com o conceito 4, enquanto o de Promoção da Saúde, Desenvolvimento Humano e Sociedade recebeu a nota 3.
Decisão da mantenedora
Em nota para GZH, a Aelbra informou que tem adotado medidas para equacionar o passivo desde 2022, “preservando o maior patrimônio, que é a oferta de um ensino de qualidade, recentemente avaliado com nota máxima pelo MEC (Ministério da Educação)”. A mantenedora apontou que tanto a demissão de docentes como a descontinuidade dos PPGs estão inseridas no contexto da recuperação judicial que vive a instituição, mas que os atuais alunos “têm a total garantia da conclusão dos cursos em andamento, sem qualquer prejuízo acadêmico”. A gestora garante ainda que pagará de imediato as rescisões fruto dos desligamentos.
O Sindicato dos Professores do Ensino Privado do Rio Grande do Sul (Sinpro/RS) acompanha, em especial, a situação dos professores. Para esta quarta-feira (27), está marcada reunião com os demitidos, a fim de mapear o perfil dos profissionais e quais os cursos mais afetados. Nem todos os docentes desligados eram vinculados aos programas de mestrado e doutorado.
— Vai acontecer um processo de desativação progressiva dos PPGs. Os docentes que não foram demitidos perderão carga horária de pesquisa, e terão mantidas as disciplinas de orientações e aquelas que faltam para completar o curso dos atuais alunos. Lamentamos, mas não estamos surpresos: as demissões têm feito parte da realidade da Educação Superior, que vive uma crise que se estende há vários anos — destaca o Marcos Fuhr, diretor do Sinpro/RS.
Em nota, a Associação Nacional de Pós-Graduandos (ANPG) pontuou que o caso se soma à descontinuidade de programas de pós-graduação de excelência ocorrida no ano passado na Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos) e na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), entre outras instituições, o que revela uma crise na Educação Superior, em especial nas comunitárias, que, aparentemente, “está com mais força no RS”.
"Nós defendemos que é preciso imediatamente um plano de reestruturação desses programas, mas, para isso, a instituição precisa abrir os dados da real situação dos programas e mostrar a verdadeira situação da universidade para elaborarmos alternativas viáveis de continuidade desses programas, os quais muitos são nível cinco, o que pode ser considerado de excelência nacional”, sugeriu a entidade. A ANPG põe, ainda, à disposição sua ouvidoria, para orientar estudantes quanto a possíveis medidas judiciais, em caso de as atividades acadêmicas dos atuais alunos serem prejudicadas pelas demissões feitas.
POR GZH
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