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Valmor Keller, o Pinheiro: um anjo de elevada estatura

Por: Francisco de Campos - Correio Regional


Perdi minha mãe em 2013. Perdi meu pai em 2019. Agora perdi o Pinheiro (21.5.2020). Valmor Keller - o famoso e sempre bem querido Pinheiro - soube construir uma bonita história. Era, para nós aqui do Correio Regional, um membro da família. Vivia livre como um pássaro. Mas, por onde andou, foi só cultivando amigos. Poucos churrascos, feitos ao longo de quase quarenta anos, não tiveram a presença do Pinheiro. Era convidado especial. E não se acanhava. Fazia valer o seu incrível apetite.


Vou revelar aqui uma passagem que comprova a estima que as pessoas tinham pelo Pinheiro... Quase no final dos anos oitenta o então governador Pedro Simon fez uma visita oficial a Colorado. Depois de uma carreata, com foguetório, pelas vias centrais da cidade, foi recepcionado, no amplo salão da igreja católica, por mais de seiscentas pessoas. Nós estávamos lá. Eu e o Pinheiro. Um maravilhoso churrasco foi servido. Adivinhe a quem os churrasqueiros levavam os melhores espetos.


Sim... Em meio àquela multidão toda os churrasqueiros priorizavam o contentamento do Pinheiro. Eu e outras pessoas, mesmo sentados à mesma mesa, não merecíamos a menor atenção dos responsáveis pelo banquete. Acho que até Pedro Simon foi protelado porque os churrasqueiros queriam, mesmo, é agradar o Pinheiro. Maravilha de existência... Ser querido assim não é para qualquer um.


O Pinheiro, na verdade, era um anjo de alta estatura. Sua mãezinha está ainda entre nós porque Deus entendeu que o Pinheiro dependia de suas atenções. Ela caprichava na comida e em todos os outros cuidados porque sentia amor celestial pelo “menino”. É isso daí... Todo mundo amava o Pinheiro. Imagine, então, o tamanho do amor da mãe dele. Também foi contemplado com muito amor dos irmãos, das irmãs e dos sobrinhos. O Felipe Keller, quando nasceu, foi sentenciado pelo Pinheiro: “Este puxou por mim. Vai ser jornalista”. E o Felipe Keller é jornalista. Feliz profecia do nosso Pinheiro.


O JORNAL


O amor do Pinheiro pelo contato com o público era marcante. Tanto na cidade quanto no interior. No início dos anos dois mil eu me dedicava à administração do Correio Marauense. Inclusive havia fixado residência em Marau para atender de perto esse jornal. Em Não-Me-Toque o Correio Regional continuava bombando... Em todas as mãos... Jornal impresso era ainda um instrumento indispensável em todas as casas. Eis que um grupo de investidores resolveu fazer proposta de compra do Correio Regional.


Tínhamos, na época, só em Não-Me-Toque, sede número um do Correio Regional, mais de dez funcionários (hoje denominados de colaboradores). O Pinheiro fazia parte desta equipe. A proposta de compra do jornal veio com um detalhe meio incômodo. Os investidores queriam, para oficialização do negócio, que eu demitisse alguns dos meus funcionários. Entre os apontados para demissão estava o Pinheiro. Então, claro, não gostei da ideia. Eu havia dado o primeiro emprego para este ser humano e ele se encontrava muito feliz. Teria eu coragem para tirá-lo de um lugar que tanto o agradava? Não!


Ainda considerando a proposta de compra do Correio Regional conversei demoradamente com o Pinheiro. Fiz convite para que trabalhasse comigo em Marau. Ele não achou a proposta muito interessante - mas resolveu fazer uma experiência. Ficou em Marau uns cinco ou seis dias e não mais aguentou. Veio a mim e disse: “Não vou me acostumar por aqui. Preciso voltar para Não-Me-Toque. É lá que estão meus amigos. É lá que estão meus familiares. Quem sabe você repensa essa história de vender o Correio Regional!”


Repensei. Sabe o que fiz? Não vendi o Correio Regional. Não me achei no direito de fazer isso. Não podia imaginar o Pinheiro sem emprego e, ainda, frustrado por ficar fora de uma atividade que tanto estimava. Por isso acho que o Pinheiro era um anjo de elevada estatura. Graças a esse posicionamento estamos, ainda hoje, com o nosso querido Correio Regional. E que Deus nos contemple com esse privilégio por muitos anos mais.


Que Deus dê ao nosso Pinheiro o lugar mais confortável do céu. E, quem sabe, possa existir lá nesse lugar uma máquina fotográfica e uma pasta de couro bem grande para que este dedicado moço se mantenha na ação jornalística.

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